Um legado de mais de 50 anos direto das artes
plásticas para a manipulação de imagem. Josef Albers e a interação das cores.
RESUMO
É
inevitável estudar a interação das cores se quisermos dominar nossos processos
de produção e pós-produção na era da imagem digital. Independente de qual
aspecto uma cor venha a ter quando isolada e em ambiente controlado, ela sempre
será vista diferente fora deste contexto. Essa ilusão pode prejudicar
seriamente um profissional da imagem desavisado. O Artista Plástico Josef
Albers foi um grande conhecedor da interação das cores, e traz uma noção
importantíssima de sua importância no livro “Interacion of Color”.
O estudo
das cores e tão misterioso quanto fascinante, e entrar um pouco em seus
detalhes e minúcias pode ser crucial para o resultado de um trabalho de
fotografia ou manipulação de imagem. Mostraremos os caminhos para quem quer
compreender um pouco mais dessa ciência, usando-a a seu favor.
Aquele que
disser que o estudo da cor é um tema simples provavelmente não entendeu bem com
o que está lidando.
“Luz e
cor podem representar coisas muito diferentes para pessoas diferentes. Eu
respirei aliviado quando fiquei sabendo que minha missão era tratar de aspectos
físicos da cor, por que, para mim, qualquer outro aspecto da luz e da cor é
horrivelmente complicado” Malcolm Longair [1]
Josef
Albers[2]
foi professor de Artes na Universidade de Yale na década de 60. Em seu livro
polêmico na época, publicou um estudo sobre as cores e suas interações. Ele
usava recortes de cartões coloridos e os colocava justapostos, promovendo
efeitos diversos que iam de simples simulações de transparência a complexas
ilusões de óptica.
“Para podermos usar as
cores de modo eficiente, é necessário que reconheçamos que a cor nos engana com
eficiência. Para isso, nosso estudo não deve começar por sistema de cores.
Primeiro é preciso que se aprenda que uma mesma cor pode evocar inumeráveis
leituras”.[3]
Com os
sistemas de cores (RGB, CMYk, Lab, ProPhoto, etc.), espectro fotômetros e
programas de manipulação de imagens que temos hoje, Josef Albers poderia
analisar este fenômeno mais facilmente, além de realizar experimentos
rapidamente com apenas poucos cliques. Mas, na década de 60, as únicas
ferramentas que ele tinha eram a sua intuição e as cartolinas coloridas.
Um aspecto importante do estudo apresentado por
Josef Albers era o da cor complementar. Em um de seus famosos experimentos, uma
cartolina era cortada em duas tiras que, sobrepostas, formavam um “X”. Em
seguida eram colocadas diante de dois fundos diferentes. Em um deles,
acinzentado, o “X” aparentava ser amarelo. No outro, que tem a cor amarela
forte, o mesmo “X” aparentava ser cinza. É fácil perceber que a tira de papelão
que forma o “X” tem uma única cor com uma característica intermediária entre o fundo
amarelo e o fundo cinza, embora seja percebido com cores diferentes conforme
mudamos o fundo. Josef mostrava que o olho humano não trabalhava com o valor
absoluto da cor que enxergava, mas com a relação entre a cor de um objeto e
suas adjacências.
O professor
estimulava seus alunos a manipular a percepção das cores de maneira controlada,
reunindo pares de carões com cores complementares e induzindo nova percepção
sobre elas. Na Figura 2 percebemos que os fundos vermelho e pardo foram convenientemente
escolhidos de forma a anular a diferença de cor entre os dois bastões marrons. Neste
caso, o exemplo tem efeito contrário ao anterior. Ao invés de fazer uma única
cartolina ser percebida com duas cores diferentes, fazemos duas cartolinas
diferentes serem percebidas com cores iguais.
Análise técnica
(opcional)
Na prática, utilizando o sistema de cores Lab onde podemos separar luminosidade
de cor, percebemos que o que varia é o salto de luminância de um objeto para o
outro, independente da cor.
O que temos que fazer é “corrigir” a diferença entre a
tira mais escura e a tira mais clara, ou seja fazer com que elas tenham a mesma
luminância aparente.
A tira com a cor 4 é mais escura que a tira de cor 3. Olhando
os valores do quadro de informações do Photoshop, vemos que há uma diferença de
25 pontos em luminância. Isso significa que, quando olhamos as duas juntas, a
tira 4 é 25 pontos mais escura que a tira 3.
Para eliminarmos a sensação de que a tira 4 é mais escura,
precisamos coloca-la próxima a um fundo mais escuro que ela ainda. Ideal seria
que o fundo fosse tão mais escuro que a tira 4 quanto ela mesma é mais escura
que a tira 3. Em outras palavras, precisamos promover entre a tira e o fundo o
mesmo salto de luminância que acontece entre uma tira e outra. Porém, é claro,
se o salto de uma tira para outra será no sentido inverso do salto da tira para
o fundo.
Para facilitar o entendimento, uma analogia simples. Um
menino considerado forte e temido por toda a sua turma de ensino fundamental
aos 15 anos de idade. Ele será facilmente considerado franzino e irrelevante se
colocado em meio a halterofilistas. Imediatamente ele passa a não ser o mais
forte, e nem por isso suas dimensões mudaram.
Quando colocamos a tira 4 com o fundo 2 temos o seguinte
fenômeno. A tira, que antes era 25 pontos mais escura que seu par (3) agora é
25 pontos mais clara que seu fundo (2). Assim ele deixa de ser a “mais escura”
em função de seu novo referencial.
[1] Malcolm Longair é Professor de
Ciências Naturais no Laboratório de Cavendish, na Universidade de Cambridge.
Seu comentário citado aqui está no livro “COLOUR
Art & Science” – Trevor Lamb.
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