sexta-feira, 10 de abril de 2015

Precisa-se de Photoshop para uma foto mais Natural!




Artigo de Opinião – Versão completa
Assunto: Ética na manipulação de imagem
Título: Precisa-se de Photoshop para uma foto mais Natural!
por Patrick Oliveira

Photoshop para a foto mais “natural”? É o que poucos sabem de um importante papel da manipulação de imagem em nossa história recente da fotografia. Photoshop não é a única ferramenta de manipulação que existe, mas é frequentemente acusada de falsear a realidade na fotografia. Além de descontextualizada, generalizada e tendenciosa, essa acusação é injusta.
O que é o “natural”? Comecemos lembrando que a foto sem tratamento não é “natural”. Dos cinco sentidos que usamos em nossas experiências, apenas uma é usada na fotografia (a visão). Os outros 4 sentidos são deliberadamente descartados (!). Ainda sim, a foto nunca corresponde exatamente ao que vemos.
“Um fato fundamental que frequentemente esquecemos... quando tiramos uma foto, não fazemos um registro perfeitamente objetivo da realidade. O que fazemos, é uma interpretação dela. Não há filme ou câmera digital que registre perfeitamente e de forma acurada a natureza mesmo em seu nível mais simples.”
Jerry Lodrigues[1]
Processadores de câmeras são micro Photoshops. Não existe foto digital sem processamento de imagem. Os sensores das câmeras apenas fornecem números relacionados á luz que incide sobre sua superfície. A imagem mesmo é uma criação do sistema d câmera. Os processadores são tão determinantes no processo da fotografia digital que a indústria das Cyber Shots investe pesado no processamento de suas câmeras para atender à demanda das “belas fotos automáticas”. Até usuários mais leigos já perceberam que resolução está longe de garantir uma boa foto. De equalização de luz a interpretação de cores, cada equipamento digital entrega uma foto bem diferente da outra em uma mesma cena. Essas diferenças são provocadas por um processamento digital que se parece com o do Photoshop.
(foto 1) a foto mostra em cima o resultado “puro” da captura da câmera. Na verdade, para sermos mais precisos, a foto de cima é o que a câmera “entendeu” que deveria corresponder à sensação visual que o fotografo estava tendo na cena. A foto de baixo foi revelada digitalmente e mostra o que o fotografo estava vendo. Um exemplo da manipulação de imagem a serviço da verossimilhança.

O olho humano também manipula. No estudo da fisiologia da visão conhecemos estruturas e esquemas no olho humano responsáveis por processar a imagem antes mesmo que ela seja enviada para o cérebro. Uma delas, segundo Denis Beylor [2], nos ajuda a isolar objetos em um cenário de pouco contraste, realçando as bordas para delinear objetos importantes. O Photoshop também faz isso por nós em nossas fotos digitais, já que a câmera não “pensa” como nossos olhos (trata-se da ferramenta High pass, para quem tiver curiosidade). Outra característica da visão humana que o Photoshop reproduz é a capacidade de enxergar, simultaneamente algo muito escuro e algo muito claro. Quando olhamos para uma lâmpada em um quarto sob penumbra, vemos simultaneamente a fonte de luz e o conteúdo fracamente iluminado ao seu redor. Mesmo que a luz da lâmpada seja milhares de vezes mais intensa que aquela refletida pelo objeto à sombra, nós ainda conseguimos ver com detalhes os dois objetos. Quem já tentou fotografar uma janela já passou pelo apuro de ter que escolher o interior do cômodo ou o cenário lá fora. Quando o conteúdo da janela fica bem fotometrado, o interior do cômodo torna-se um breu, e quando a fotometria privilegia o interior do cômodo o Céu vira uma massa branca na fotografia. Isso que o olho humano faz há milênios é o que o HDR (High Dinamic Range – Grande alcance dinâmico) vem trazer à fotografia digital mais recente. Com o HDR o fotógrafo pode fazer uma foto para contemplar a janela e outra para o cômodo, aproveitando o melhor de cada uma e mixando-as em uma única foto. Exatamente o que o olho já faz! Até mesmo iPhone tem HDR hoje em dia. 

“A riqueza das cores que vemos são criações do sistema nervoso, e não propriedades intrínsecas da luz. Cor e beleza estão nos olhos de quem vê. “
Denis Baylor


É preciso que se diga que a mente humana é uma máquina de processamento de imagem também. Nos anos 1920 nasceu uma corrente na psicologia que estudou o comportamento de nossa mente diante da forma. Gestalt, do Alemão “forma”, abriu caminho para diversos estudos particulares e em especial sobre a experiência estética. Um dos desdobramentos desse estudo foi a constatação de que a experiência estética segue mais padrões e regras psicológicas do que os românticos gostariam de admitir.

“é preciso desmistificar, também, determinadas tendências que consideram a forma presa a conteúdos convencionais, onde, na maioria das vezes, se julga a beleza como uma qualidade puramente subjetiva (“beleza não se discute”, “tudo é relativo”, etc,) desvinculada de quaisquer parâmetros de avaliação objetiva e de princípios ou procedimentos intelectuais.”
Julio Gomes Filho[3]

A manipulação está na foto analógica também. Tanto quanto clarear o que interessa e escurecer o que não tem importância faz do Photoshop uma ferramenta de “manipulação de realidade”, também o faz o editor do jornal quando escolhe o que vai noticiar e o fotografo quando faz em seu enquadramento o recorte da realidade que mais lhe agrada. Até mesmo o ato de selecionar as fotos que vão ser impressas e as que vão ser descartadas em uma prova de contato é, em si, uma forma de manipulação (Edição). Seria ingênuo acreditar que o Photoshop carrega sozinho essa culpa. Qualquer ferramenta concebida com a melhor das intenções pode ser usada para o mau em mãos erradas, e o Photoshop não está imune a isso.

 “Historicamente, a fotografia sempre foi meio de manipulação. Até um sorriso é uma forma de manipulação, já que mascara o verdadeiro sentimento do sujeito.Dunleavy﷽﷽.a o verdadeiro sentimento que estes comuns convivendo com metas de beleza cada vez mais dif um jogo de Xadrez sem con"
Dunleavy[4]
Todo fotógrafo profissional ou amador já se deparou com uma cena maravilhosa que não conseguiu registrar com seu equipamento: Uma lua linda que na foto parece uma bolinha branca pequena; um final de tarde que, na foto, parece um garrancho preto com uma luz laranja no fundo; aquela mulher maravilhosa com quem você vai se casar e que simplesmente se encheu de espinhas às vésperas da cerimônia; Ou o Céu que inventou de ficar nublado naquele lugar em que chegamos para fotografar depois de 3 dias de viagem. Para situações como essa, o Photoshop pode trazer um Céu melhor, retirar as espinhas que não são eternas ou fazer um corte que valorize a Lua em meio a tanto cenário. Aí, sim, a foto estará mais parecida com o que chamamos de “natural” depois de passar pela manipulação.
Se tivéssemos realmente que produzir uma foto “Natural” talvez tivéssemos que trabalhar com as panorâmicas em 3D. Ali, pelo menos, aquele que vai ver o registro pode escolher para onde olhar, feito o que fazemos no Google Street View.
Com tudo isso acho que podemos dizer que o Photoshop é tão perigoso à sociedade quanto uma mamadeira: depende de como você usa e do que você coloca nele. Que o nosso bom senso nos guie para o melhor uso dessas ferramentas que tanto trabalham a serviço da experiência estética agradável e do bem estar visual. E que saibamos escolher quando não usá-la, desde que não seja pelo pré conceito.







[1] Jerry Lodriguss, also known to his friends as “The Prince of Darkness,” was born and raised in New Orleans, Louisiana He now lives in suburban Philadelphia. He studied journalism at Louisiana State University and later graduated with a degree in communications from the University of New Orleans where he studied film.
[2] BAYLOR, Denis. “Color, Arts and Science”. Fisioligista da visão formado em Yale, Baylor dedicou  sua carreira à pesquisa dos mecanismos da visão na retina. Ele é professor de Neurologia na Universidade de Stanford.
[3]Gestalt do objeto” – Sistema de Leitura da Forma.
[4] Dennis Danleavy foi ganhador do prêmio de fotojornalismo com experiência em jornal diário como correspondente da América Latina e México. Seus interesses em pesquisas incluem Ética na Imagem digital, práticas visuais, foto jornalismo, multi mídia, retórica semiótica e persuasão visual.

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